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casulo-borboletaPensava sobre 10 anos atrás e é surpreendente a diferença do adolescente que fui para o adulto que, enfim, começo a ser. Há 10 anos tudo o que queria era o ingresso numa boa faculdade. Havia recém encerrado a grande celeuma entre os cursos de Jornalismo e Direito. Advogado, hoje anseio pelo mestrado.

Dizem que aos 27 anos enfrentamos uma das maiores de nossas crises, a crise entre o “adeus” à adolescência e o “com licença” à adultice (permita-me o neologismo para a fase adulta). Existe até mesmo um “clube dos 27”, cujos membros são gente do calibre de Amy Winehouse, Jimi Hendrix, Janis Joplin e Kurt Cobain. Foi aos 27 que estes ilustres morreram. É por estas e outras que se tem por aí que os 27 anos são uma idade um tanto quanto conturbada. Há quem diga, inclusive, que quem não morre aos 27, atinge um estado de loucura máximo.

Érico Veríssimo escreveu no prefácio do seu romance “Clarissa”, nos idos dos seus 27 anos, que estava tentando resgatar o entusiasmo da adolescência. Também quero o entusiasmo da adolescência. Não sou tolo de acreditar que uma idade afeta a todos nós, seres da mesma espécie, mas tão diferentes. Cada um de nós é uma história com enredo singular. Ninguém é igual a ninguém, nem se quiséssemos.

Celebro meus 27 anos porque tenho conseguido, apesar da complexidade que é ser humano, reunir gente junto de mim. Embora nunca tenha recebido muitos presentes, afinal em 5 dias é Natal, essa festa “mezzo” cristã, “mezzo” consumista – sim, por incrível que pareça os humanos conseguiram unir o que, no primeiro momento, das longínquas terras galileias, é insociável -, a cada ano que se passa o número de pessoas conhecidas, de novos contatos estabelecidos aumenta. Os afetos são os sentidos da vida.

Aos meus tios e primos, antes que me perguntem nas festas de fim de ano, dou satisfação, chego aos 27 anos solteiro – gosto de brincar que quem tem azar é azarado e quem tem sorte é solteiro, mas não passa de brincadeira, acredite. Dizem que é bom, outros, que nem tanto, alguns se preocupam, mas juro que estou tentando. E continuarei. Vai que um dia as coisas acontecem a despeito das minhas inúteis exigências. E olha que eu até pensei que este ano fosse me arrumar, mas devo ser um pouco azarado também. Foram duas as tentativas: a primeira mora longe demais e a segunda, em nome do feminismo, sentia-se objetificada a cada elogio, e fazia questão de pontuar meus aspectos machistas a cada conversa. Acho que ela esqueceu que opressões como o machismo são condicionamentos humanos, das coisas que não se resolvem com alguns dias ou meses de conversas. Bom, talvez esteja errado. Sei lá, aprendi a fazer desse processo algo sublime.

A adultice chegou pra ficar e estou certo de que amadurecer é um processo necessário, urgente e interminável. Agora tenho profissão, e, apesar de vez por outra me atrapalhar, não dá mais pra brincar a todo tempo de errar por errar. É preciso, hoje, mais do que antes, aprender com os erros. Os 30 estão logo ali. Já os miro.

Que venham os próximos anos, portanto, pois como bem disse o Ferreira Gullar numa de suas entrevistas, “a vida é inventada. Então, cabe a nós inventar uma melhor”. Mãos à obra e aos anos que se sucederão. Que continuem repletos de experiências amadurecedoras, cheios de vida e transbordantes em amizade e afeto.

Aprendi com meu pai que a gratidão é a base da felicidade. Sendo assim, hoje sou muito mais grato a Deus do que ontem, pela família, pelas conquistas, pelos amores, pelas paixões, pelos amigos e por poder contribuir com um mundo mais plural e, portanto, humanizado.

Bendita vida!